No dia 20 de fevereiro de 2025, eu e minha esposa completamos 8 anos na Alemanha. Cheguei aqui com apenas 32 anos e agora sou um quarentão. Nossa filha nasceu aqui em 2018 e hoje fala alemão melhor que nós dois. Aliás, até português ela fala melhor que eu.
Tudo começou em 2016, quando a startup que eu co-fundei faliu. De repente, me vi sem emprego, sem salário e sem saber o que fazer. E isso tudo no meio de um planejamento de casamento.
Jogando bola com os amigos, notei que um deles não tinha comparecido à nossa peladinha semanal. Então perguntei: “Ué, cadê o Rafael?”. A resposta foi simples e direta: “Mudou para a Polônia”. Mas como assim? Semana passada ele estava lá jogando com a gente.
Foi aí que entrei em contato com ele por e-mail e perguntei como isso tinha acontecido. Ele me explicou que já estava há algum tempo participando de processos no exterior através de uma empresa de recrutamento chamada honeypot.io (que foi incorporada pela Xing – um tipo de LinkedIn).
Como eu não tinha mais emprego, era uma boa hora de mandar meu currículo para qualquer lugar do mundo e tentar morar fora novamente, depois de uma experiência em San Francisco, CA.
Pois bem, depois de muitos processos, consegui três ofertas oficiais: uma dos EUA (remoto, morando no Brasil), uma em BH e outra para me mudar para a Alemanha. Você já entendeu qual escolhemos, né? Todo o processo de mudança demorou 6 meses e envolveu muita burocracia, mas isso não é papo para agora.
O choque cultural foi imenso. Era minha primeira vez na Alemanha, aliás, minha primeira vez em solo europeu. E agora consigo listar 5 pontos sobre o que mais mudou em mim.
- Desigualdade como o motor dos problemas sociais:
A Alemanha me mostrou como a desigualdade social é um dos principais fatores por trás de problemas como criminalidade(e segurança pública no geral). Aqui, a distribuição de renda e o acesso a serviços básicos são mais equilibrados, o que resulta em uma sociedade mais segura e estável. Isso me fez refletir sobre como políticas públicas podem impactar diretamente a qualidade de vida das pessoas.
- Cultura é construção:
Aprendi que a cultura não é algo fixo, mas sim algo que se constrói e se transforma. É comun ver homens(principalmente árabes), demonstrando afeto entre si, algo que no Brasil ainda é visto com certos preconceitos. Isso me mostrou como os valores sociais podem ser diferentes e como é importante respeitar e entender essas diferenças. Ah, e o alemão faz xixi sentado, outro ponto que na nossa cultura não é comum.
- Não existe lugar perfeito:
A vida na Europa não é um mar de rosas. Apesar das muitas vantagens, também existe muito racismo, xenofobia e preconceitos(nunca sofremos,mas existe) em geral. Isso me fez perceber que quando você muda, você só troca de problemas. Nenhum lugar é perfeito.
- Menos consumismo, mais foco em experiências:
Aqui, percebi que as pessoas valorizam menos o ter e mais o viver. O consumismo desenfreado que vemos no Brasil dá lugar a um estilo de vida mais simples e focado em experiências, como viagens, passeios e momentos em família. Isso mudou minha perspectiva sobre o que realmente importa na vida.
- Valorizar mais o Brasil:
Morar fora me fez valorizar ainda mais o Brasil, especialmente o clima e o sol. A Alemanha tem invernos longos e escuros, e isso me fez sentir falta do calor e da luz do Brasil. Além disso, passei a admirar mais a cultura brasileira, nossa diversidade e nossa capacidade de superar desafios. Quando chega um Brasileiro aqui falando mal do Brasil eu já corto e tento mostrar o lado bom.
Pra finalizar, acho que todo mundo que tiver condição, deveria morar fora(seja do país ou apenas de seu estado). Conhecer novas culturas expande sua cabeça para outros estilos de vida, te ajuda a ser mais empático e acolhedor. Nada mata melhor o preconceito do que conviver com o diferente.